Raul Ventura
Há algum tempo
discute-se no movimento espírita, se o médium Francisco Cândido Xavier teria
sido a reeencarnação do professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, ou Allan
Kardec, o codificador do Espiritismo.
Não somos dos que
consideram a discussão estéril e dos que pensam que “perdemos” tempo com isso,
e que deveríamos sim, dedicarmo-nos a assuntos mais importantes, como nossa
reforma íntima. Obviamente, uma coisa não exclui a outra. Pensamos que certas
conclusões sobre o tema podem, inclusive, ter certas repercussões ou até mesmo
contribuir para um melhor entendimento do processo reencarnatório. O que
importa é que o debate se faça no campo das ideias e evidências.
A professora Dora
Incontri, embora achando que a hipótese de que Chico seria a reencarnação de
Kardec nem devesse ser discutida, escreveu há alguns anos, um artigo no qual
analisa a questão, o que ela somente resolveu fazer, segundo disse, basicamente
por dois motivos: a insistência das pessoas que constantemente lhe faziam essa
pergunta nos eventos onde ela participava e a defesa dessa ideia por algumas
personalidades expressivas do movimento espírita brasileiro.
Há argumentos
interessantes tanto dos que defendem a tese de que se tratam do mesmo Espírito,
como daqueles que discordam veementemente. Para não sermos cansativos e nos
estendermos sobre o que outros já escreveram muito bem, remetemos os
interessados a dois links da internet contidos nas referências, com os pontos
de vistas de Dora Incontri e Carlos Baccelli, os quais concentram os principais
argumentos levantados pelos dois lados, sem prejuízo de outros textos que
abordam o assunto.
A nossa contribuição
é apenas trazer informações do livro “Chico Xavier: apóstolo do
Brasil”, obra construída através de
entrevistas e diálogos do escritor Ariston Teles com o amigo e filho do coração
de Chico Xavier, Eurípedes Higino, o qual narra significativos acontecimentos
na vida do médium mineiro, com quem conviveu durante 40 anos.
Preferimos
transcrever a passagem, com a pergunta de Ariston e a resposta de Eurípedes:
“Embora o assunto seja polêmico, você tem algo a dizer sobre as vidas passadas de Chico Xavier, além do que já afirmou sobre a possibilidade de ele ter sido o codificador do Espiritismo?
“Embora o assunto seja polêmico, você tem algo a dizer sobre as vidas passadas de Chico Xavier, além do que já afirmou sobre a possibilidade de ele ter sido o codificador do Espiritismo?
Sim. Ele me
autorizou a comentar sobre esse assunto depois de sua desencarnação, mesmo
sabendo que muita gente poderia questionar certas afirmações. Dentre as
existências que os mentores espirituais revelaram, ele está na Bíblia, com o
nome de Elias, o profeta; na Grécia antiga chamava-se Platão, o filósofo; no tempo
de Cristo foi João Batista; na Tchecoslováquia, João Russ, precursor da Reforma
Protestante; entre os séculos XV e XVI foi o evangelizador José de Anchieta;
depois, reencarnou na França do século XIX, tendo adotado o cognome Allan Kardec
para assinar a codificação do Espiritismo.”
Essas “revelações”,
pelo fato de serem ditas por um dos maiores confidentes do Chico, deveriam
adquirir grande relevância. O problema é que pelo menos uma dessas informações
não parece se encaixar: o fato do médium ter sido o filósofo Platão. Isso
porque numa rápida pesquisa em O Livro dos Espíritos, encontramos duas
mensagens assinadas pelo pensador grego como Espírito: nos prolegômenos, no
qual assina com outras personalidades bastante conhecidas e na pergunta 1009,
na qual responde sobre as penas eternas.
Como poderia então,
Kardec, que futuramente reencarnaria como Chico Xavier, que por sua vez foi
Platão, receber uma mensagem mediúnica dele mesmo? De duas, uma. Ou entendemos
que esta informação foi um equívoco de Eurípedes Higino ou teríamos que
considerar as mensagens assinadas por Platão na codificação como apócrifas, o
que não é minimamente razoável. E se foi um equívoco de Eurípedes, serão o
restante das informações sobre as vidas de Chico Xavier confiáveis, inclusive a
de que teria sido Kardec? Ou também não poderiam ser apenas impressões pessoais
do entrevistado?
Por oportuno,
lembramos da recomendação dada a Chico Xavier pelo seu próprio mentor
espiritual, Emmanuel, de que na dúvida entre o que ele dissesse e o que
estivesse contido em Kardec, que ficasse com Kardec.
É preciso cautela!
Referências:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos (tradução
de Evandro Noleto Bezerra), Rio de Janeiro: FEB, 2006. Prolegômenos e pergunta
1009.
TELES, Ariston e
HIGINO, Eurípedes. Chico Xavier: apóstolo do Brasil. Brasília: Ano Luz, 2010.
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