sábado, 29 de outubro de 2011

Chico Xavier teria sido Kardec: afirma Eurípides Higino


 Raul Ventura

Há algum tempo discute-se no movimento espírita, se o médium Francisco Cândido Xavier teria sido a reeencarnação do professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, ou Allan Kardec, o codificador do Espiritismo.

Não somos dos que consideram a discussão estéril e dos que pensam que “perdemos” tempo com isso, e que deveríamos sim, dedicarmo-nos a assuntos mais importantes, como nossa reforma íntima. Obviamente, uma coisa não exclui a outra. Pensamos que certas conclusões sobre o tema podem, inclusive, ter certas repercussões ou até mesmo contribuir para um melhor entendimento do processo reencarnatório. O que importa é que o debate se faça no campo das ideias e evidências. 

A professora Dora Incontri, embora achando que a hipótese de que Chico seria a reencarnação de Kardec nem devesse ser discutida, escreveu há alguns anos, um artigo no qual analisa a questão, o que ela somente resolveu fazer, segundo disse, basicamente por dois motivos: a insistência das pessoas que constantemente lhe faziam essa pergunta nos eventos onde ela participava e a defesa dessa ideia por algumas personalidades expressivas do movimento espírita brasileiro.

Há argumentos interessantes tanto dos que defendem a tese de que se tratam do mesmo Espírito, como daqueles que discordam veementemente. Para não sermos cansativos e nos estendermos sobre o que outros já escreveram muito bem, remetemos os interessados a dois links da internet contidos nas referências, com os pontos de vistas de Dora Incontri e Carlos Baccelli, os quais concentram os principais argumentos levantados pelos dois lados, sem prejuízo de outros textos que abordam o assunto.

A nossa contribuição é apenas trazer informações do livro “Chico Xavier: apóstolo do Brasil”, obra construída através de entrevistas e diálogos do escritor Ariston Teles com o amigo e filho do coração de Chico Xavier, Eurípedes Higino, o qual narra significativos acontecimentos na vida do médium mineiro, com quem conviveu durante 40 anos.

Preferimos transcrever a passagem, com a pergunta de Ariston e a resposta de Eurípedes:

“Embora o assunto seja polêmico, você tem algo a dizer sobre as vidas passadas de Chico Xavier, além do que já afirmou sobre a possibilidade de ele ter sido o codificador do Espiritismo?

Sim. Ele me autorizou a comentar sobre esse assunto depois de sua desencarnação, mesmo sabendo que muita gente poderia questionar certas afirmações. Dentre as existências que os mentores espirituais revelaram, ele está na Bíblia, com o nome de Elias, o profeta; na Grécia antiga chamava-se Platão, o filósofo; no tempo de Cristo foi João Batista; na Tchecoslováquia, João Russ, precursor da Reforma Protestante; entre os séculos XV e XVI foi o evangelizador José de Anchieta; depois, reencarnou na França do século XIX, tendo adotado o cognome Allan Kardec para assinar a codificação do Espiritismo.”

Essas “revelações”, pelo fato de serem ditas por um dos maiores confidentes do Chico, deveriam adquirir grande relevância. O problema é que pelo menos uma dessas informações não parece se encaixar: o fato do médium ter sido o filósofo Platão. Isso porque numa rápida pesquisa em O Livro dos Espíritos, encontramos duas mensagens assinadas pelo pensador grego como Espírito: nos prolegômenos, no qual assina com outras personalidades bastante conhecidas e na pergunta 1009, na qual responde sobre as penas eternas.

Como poderia então, Kardec, que futuramente reencarnaria como Chico Xavier, que por sua vez foi Platão, receber uma mensagem mediúnica dele mesmo? De duas, uma. Ou entendemos que esta informação foi um equívoco de Eurípedes Higino ou teríamos que considerar as mensagens assinadas por Platão na codificação como apócrifas, o que não é minimamente razoável. E se foi um equívoco de Eurípedes, serão o restante das informações sobre as vidas de Chico Xavier confiáveis, inclusive a de que teria sido Kardec? Ou também não poderiam ser apenas impressões pessoais do entrevistado?

Por oportuno, lembramos da recomendação dada a Chico Xavier pelo seu próprio mentor espiritual, Emmanuel, de que na dúvida entre o que ele dissesse e o que estivesse contido em Kardec, que ficasse com Kardec.

É preciso cautela!


Referências:

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos (tradução de Evandro Noleto Bezerra), Rio de Janeiro: FEB, 2006. Prolegômenos e pergunta 1009.

TELES, Ariston e HIGINO, Eurípedes. Chico Xavier: apóstolo do Brasil. Brasília: Ano Luz, 2010.


http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/chico/porque-creio.html

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